terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Diário de Tuka

  
Foi amor a primeira vista, minha primeira lembrança é a de estar em seu colo, me levou para sua casa e me tratou com o maior carinho, não me lembro muito bem porque o tempo parece se encarregar de levar as lembranças assim como o vento se encarrega de levar um dente de leão, mas não me recordo de maus tratos por sua parte.
Deixava a casa quase todos os dias sempre antes do Sol nascer e voltava sempre quando o astro se punha, provavelmente saia para caçar só podia ser isto, para descanso tirava apenas um só dia numa serie de ir e vir de pôr de Sois, não devia ser bom caçador, pois trazia os louros da caçada apenas uma única vez a cada quatro Luas.
Verdade seja dita magoara-se com o fato de que ao crescer perdera o seu lugar na casa, sendo transferida para o quintal, assim como ele chamava, mas isto de maneira alguma havia diminuído o amor do homem por ela, todos os dias pela manhã e pela noite ele despendia alguns dos seus preciosos minutos para distrair-me, um verdadeiro amigo, alias o único que conheci em toda a minha vida.
Lembro-me certa feita quando já era não era mais filhote, que ele trouxe a nossa casa uma de sua espécie, de nome Aline se não me falha a memória, esta desde o inicio demonstrara o desafeto para comigo, dignando-se nem ao menos dirigir-me um único olhar, foi quando o homem mais pareceu indiferente a mim, ainda assim não descuidava de me manter alimentada e saudável, então em um destes muitos dias em que ele saia fiquei só com Aline, jovem terrível aquela, desceu as escadas e caminhou em minha direção, eu, estava presa a uma corrente, trazia a mão um suculento pedaço de carne, atirou a mim, sabia que de suas mãos nada de bom viria, mas fraca que só teria comido não fosse o homem que retornado voltara para buscar o que chamava de “chave do armário”, algo de natureza terrível poderia ter me acontecido, ele que sabia de minha inimizade com Aline tomou-me o pedaço de carne e subiu as escadas puxando-a pelo braço, após um longo tempo que não saberia medir, Aline nos deixou chorando para nunca mais voltar, novamente era só eu e Thiago, era este o nome dele.
Mais luas se passaram Thiago trazia agora com certa freqüência uma serie de frascos dentro de sacolas plásticas, parecia a cada dia mais abatido, mais apático, tossia bastante, já não éramos mais os mesmos, tanto eu quanto ele já não tínhamos mais o mesmo fôlego, brincávamos pouco, passávamos agora a maior parte do tempo recolhidos, eu em minha casinha e ele em seu quarto.
Há dias permaneci ali, só, abandonada, sem forças o bastante para abandonar a casinha, o que haveria acontecido com Thiago, a última vez que o vira foi quando este saiu em mais uma de suas caçadas, mas ao contrario de todas as outras vezes não havia voltado, luas e sois desprendiam-se do firmamento e nada, então um dia em que sua casa havia sido invadida por uma gama de pessoas desconhecidas, trajavam uma espécie de uniforme, lagrimas escorriam de seus rostos, eram homens, mulheres, jovens e velhos, nunca entendera aquilo, onde Thiago tinha se metido?
Estranhos homens saqueavam os pertences de Thiago, o que lhe restava agora como derradeiras companheiras eram somente a fome, a saudade e a solidão.

Tuka podia não saber ou nem mesmo entender, mas encontrar-se-ia com seu dono, morreu horas depois por tristeza e inanição.

Nenhum comentário:

Postar um comentário