sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Lágrimas do Céu - Parte I


Duas da manhã, pesadas nuvens violáceas revestiam o manto negro da noite anunciando uma tempestade, acabava de descer do carro, com auxilio foi levado a uma cadeira de rodas, o empurravam de encontro a um amplo salão protegido por uma comprida porta de aço que por sua vez era guardada por dois soldados, era um velho encurvado, excessivamente magro e com uns pouquíssimos fios de cabelos espalhados pelo cocuruto, trajava uma vestimenta de patente máxima do exército, colada aos ombros diversas estrelas e ao peito um numero demasiado de medalhas, olhou para cima, pelo que pode ver havia ao menos mais quatro soldados, mais acima sobrevoava um helicóptero militar, aparentemente estavam fazendo um bom trabalho, ainda perdido na observação pode ouvir a porta sendo aberta, voltaram a lhe empurrar, de inicio teve sua visão embaçada pelo excesso de iluminação que banhava o local, ao recobrar a visão pode perceber toda a magnitude do projeto encabeçado por ele, grande caçador de talentos do governo, tinha diante de seus olhos a sua merecida recompensa, um grande gerador e algo parecido com uma caixa de som do mesmo tamanho acoplado lateralmente a um pequeno cômodo anexo a outro, separados ao que podia ver do lado de fora apenas por cores, sendo este preto e o anexo a ele branco, em sua direção vinha uma mulher de cabelos castanhos e encaracolados, branca, lábios finos e olhos verdes, usava óculos grande e redondo, dava pro gasto.
- O senhor está pronto general?
- Já nasci pronto, vamos logo com isto.
- Está certo, venha comigo, por favor.
O soldado encarregado de empurrar a cadeira voltou a movimentá-la acompanhando a mulher, o general por sua vez observava atento as suas fracas curvas, faltava-lhe carne, esta era a verdade, mais tão logo estivesse novamente jovem e sadio mostraria toda sua virilidade a frágil doutora.
Possuído pela vergonha e pela nostalgia via a delicada doutora manter a porta aberta para sua passagem, odiava aquilo, no passado fora tão forte e resistente, “o melhor soldado que já existiu” lembrava das palavras de um presidente morto a muito, contudo hoje não passava de um escarro de seus áureos tempos, sem auxilio não conseguia nem ao menos abrir uma porta, não podia nem ao menos se locomover sem que estivesse com o rabo sentado ou em uma cadeira de rodas ou em um banco de carro.
Ao entrar no alvo cômodo notou que além de si, do soldado e da doutora havia ainda uma quarta pessoa, era um homem branco de cabelos castanhos e curtos, este se encontrava sentado e voltado para um moderno painel digital, tinha ainda ao seu lado um notebook, trazia preso a orelha um pequeno aparelho de comunicação, podia ver também o outro cômodo através de um vidro que tomava a parede quase em sua totalidade, juntamente com uma porta que dava vazão ao outro cômodo estes eram a divisória entre eles.
- Adriano este é o general Augusto Barbosa.
O homem apenas girou a cadeira, ficando assim diante do venho.
- Como vai general, tudo em cima? – disse com um sorriso e apertando a mão do velho.
- Este é o engenheiro responsável pelo desenvolvimento da câmara.
- Não seja modesta Cintia eu tão somente dei corpo a sua criação, o mérito é seu.
- Vamos logo com isto – disse o ancião ainda numa demonstração de imponência.
- O senhor é que manda – disse Adriano girando sua cadeira de volta ao painel.
Cintia abriu a porta que levava ao segundo quarto, este assim como todo aquele complexo era bem iluminado, suas laterais era composta de material metálico de alto poder reflexivo, a parede do fundo possuía auto falantes espalhados, no centro havia uma maca toda feita em acrílico, ela possuía quatro amarras.
- Temos que colocá-lo na maca – pediu Cintia se dirigindo ao centro.
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quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Lágrimas do Céu - Parte II

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O soldado tomou o frágil corpo de seu general nos braços e o depositou na maca, Cintia então atou os punhos do idoso enquanto o outro prendeu-lhe os tornozelos, em seguida deixaram o cômodo.
- Já trancou a porta? – perguntou Adriano olhando para a mulher.
- Sim.
- Voce vai ter que sair cara, só pessoal autorizado – disse Adriano olhando para o soldado.
No entanto o homem não se moveu um único centímetro.
- Tá certo se sinta a vontade escolha um local, puxe uma cadeira e assista ao show de mágica – disse com um sorriso irônico – vamos começar Cintia.
Adriano acionou o primeiro botão no display, os auto falantes acoplado ao fundo do quarto negro passou a se agitar.
*
Sentia seu corpo ser tomado por vibrações, percebeu que a cada instante o seu cansado corpo era bombardeado por uma potencia maior.
*
O corpo do idoso agora se contorcia em espasmos, o até então sossegado acompanhante aproximou-se do vidro para visualizar melhor o que acontecia com o seu superior.
- Se acalma cara, isto era esperado.
- Vamos para a segunda etapa – disse Cintia acionando outro botão no painel.
Neste momento as luzes da câmara se apagaram de modo gradativo até mergulhar na completa escuridão, assim permaneceu por alguns segundos quando passou a retomar de igual modo, mas não de igual beleza a luminosidade, a luz que trazia a claridade ao cômodo não derivava de uma lâmpada e sim de inúmeros raios que cruzavam o quarto.
O soldado de olhos arregalados admirou-se ao notar o padrão, percebeu que o fenômeno não tinha rota aleatória, eles seguiam ao sabor das vibrações, havia deduzido tão somente observando a trajetória posto que a cabine onde encontrava-se estava livre de tal acontecimento.
*
Do alto do galpão com um dos olhos sempre a mira e o dedo no gatilho Marcel bufava inconformado com a situação era para ser o seu dia de folga, contudo por conta de mais um daqueles projetos cujo fazia a escolta, mas nunca sabia o que era, estava agora amargando uma puta tempestade em cima de seus córneos, água fria do caralho, o quanto mais aquele decrépito saco de ossos ira demorar dentro daquele galpão.
A torrente havia vindo de mãos dadas a um fortíssimo vento, que acompanhada ao incrível espetáculo de pirotecnia natural só deixava a dever um oceano em fúria para que assim de inexorável modo fossem mortos, como se não bastasse os ensurdecedores estrondos dos trovões que ecoavam com ferocidade ainda havia o som das hélices logo acima de sua cabeça, cego diante de tamanha escuridão era somente capaz de enxergar poucos metros a frente quando os poderosos relâmpagos explodiam iluminando momentaneamente o local ou quando o farol da aeronave voltava-se para si, nem uma das duas lhe traziam bom pressentimento, os relâmpagos explodiam cada vez mais perto e o helicóptero parecia cada vez mais instável diante do vento.
*
O helicóptero apresentava instabilidade diante da tempestade, seus motores lutavam contra o vento que tentava lhe empurrar para fora do perímetro, estava perigosamente próximo aos soldados sniper no teto do galpão.
- Acho melhor pousarmos – disse Jonathan que a muito havia fechado a porta da aeronave. 
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quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Lágrimas do Céu - Parte III

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- Calma garoto, já enfrentei tempestades como esta e em lugares muito menos amistosos.
Jonathan que tinha as mãos tremulas incapaz de se necessário empunhar a arma que trazia travada atada ao peito por uma cinta apenas meneou a cabeça estimulando a confiança do piloto.
*
O negrume imposto pelo céu eram tão somente cortado por duas coisas, pelos relâmpagos e pelo farol da nave, o primeiro era cada vez mais primoroso e imponente, iluminava quilômetros, dignos do próprio Zeus, enquanto o segundo não passava de um ponto sem estabilidade cruzando o céu, este não sabia mais estava marcado para ser  atingido pela fúria do outro.
*
- Vamos descer Cleiton, vamos descer porra – dizia Jonathan que não mais conseguia enganar seu medo.
- Tá certo garoto, vamos descer, mais fique sabendo que estaremos fudidos por isto – disse o piloto que oculto pelo capacete deixava de revelar seus cabelos grisalhos e cortado a La exército.
Do interior das pesadas nuvens violáceas, com impressionante precisão uma grossa enguia elétrica deita sobre a cauda da aeronave, Jonathan que ainda tinha a sua frente a face do amigo soltou um mudo grito de horror, mediante a força do impacto assistiu o pescoço de Cleiton quebrar e pender, atado ao cinto de segurança e tomada pelo pavor pode simplesmente esperar a morte que seria rápida concerteza não indolor.
A mão responsável pelo controle do manche baixou O levando junto, lançando assim o helicóptero em um lupin, passava agora a girar descontrolado e de ponta cabeça, Jonathan já não mais ouvia tomado pelo medo e por calorosas orações e pensamentos na família, mas o painel da nave disparava e piscava de modo incessante acusando uma falha obvia.
*
Temporariamente cegos e surdos pelo fenômeno os snipers foram incapazes de fugir da nave em queda.
As hélices que desciam como um liquidificador chocou-se contra o teto do galpão, como se estivesse com sede de destruição o teto não foi capaz de freia sua fúria que juntamente com o restante do helicóptero girava em espiral a procura de vitimas.
*
Tinha como paisagem uma mancha verde com inúmeros pontos coloridos que tomava por inteiro seus globos oculares, seus ouvidos zunia de modo a lhe deixar louco, podia sentir o seu fim, estava impossibilitado até mesmo de tentar se proteger tateou o que achava ser o parapeito do teto, se jogou, com o forte impacto da queda pode sentir algo quebrar, as costas doía violentamente, tentou se levantar, não conseguiu, passou então a se rastejar para onde acreditava ser longe dali.
Mesmo cego, surdo e caminhando numa direção oposta Marcel foi capaz de vislumbrar a clarão e o barulho da explosão.
*
Tinha agora os olhos praticamente colados ao vidro, observava impressionado a sincronia dos raios.
- Vamos ao terceiro passo – disse a mulher com jaleco branco que em seguida apertou mais um daqueles botões no painel digital.
Os raios que até então bailavam no ar daquele cômodo passava agora a invadir o cadavérico corpo preso a maca, olhou apreensivo para aqueles dois.
- Não se preocupe está indo tudo bem – disse Cintia tentando acalmar o soldado.
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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Lágrimas do Céu - Parte IV

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Ambos os cômodos revestidos com proteção acústica impediram que seus ocupantes pudessem ouvir o encontro da aeronave com o teto do galpão, sendo assim tão somente tomaram ciência do ocorrido quando os escombros tombaram sobre o teto da câmara. 
*
Uma verdadeira enxurrada invadia o galpão, os escombros do teto e a carcaça em chamas do helicóptero pesavam perigosamente sobre o teto de ambos os cômodos, em seus interiores grossas rachaduras passavam a aparecer nas paredes e vidro de proteção.
Cintia correu até a porta de saída, girou a chave e puxou a porta, desesperou-se com o que viu, escombros impediam a saída, para piorar por entre as brechas passava verter água em abundancia.
- Estamos ferrados Adriano, ferrados – disse a mulher aos berros.
- Adoro o seu otimismo Cintia – disse o homem com os olhos voltados para o painel.
- Não é hora de brincadeira Adriano.
- Não estou brincando, só acho que manter a calma ajuda.
- Desliga a droga destes raios.
- Estou tentando – disse com as mãos no cabelo – a água deve ter danificado algum dos sistemas.
Adriano passava agora a digitar agilmente o seu notebook.
- O que voce esta tentando fazer agora?
- Estou tentando assumir o controle remoto.
As paredes e o vidro ganhavam segundo a segundo cada vez mais rachaduras, e por estas vertia cada vez mais água.
- Consegui – disse Adriano com um pulo.
Os raios que envolviam o quarto de fundo preto e laterais metálicas passaram a se dissipar até mergulhar novamente aquele cômodo no breu, motivado por uma infelicidade de algum comando não foi apenas os raios que se apagaram, a iluminação também deixara o local.
- MARAVILHA – berrou a mulher que tateava ao encontro do responsável – ADRIANO.
UM DISPARO.
Por um breve instante a sala havia retomado a iluminação, revelando o vulto do soldado com uma arma em punho, mirada a fechadura.
Verdade, já tinha esquecido dele, pensou a mulher recuperando um pouco da sanidade.
- Por aqui – Gritou o soldado, que até então não tinha ao menos aberto a boca.
Adriano que tinha o computador em mãos apertou uma de suas teclas, tirando-o do estado de espera e iluminando fracamente o caminho, assumiu a frente clareando o local.
- Temos que soltar o general – ordenou o soldado.
- Tá certo – disse Adriano avançando para o centro.
O general preso a maca tinha apenas o nariz para fora da água, com urgência os três acorreram-lhe desatando as amarras.
- Segure-o – disse o homem a Adriano – vou tentar nos tirar dessa.
Adriano por sua vez passou o computador para Cintia tomando o inconsciente idoso nos braços. 
Com a arma ainda em punho o homem fardado apontou para uma larga fissura na parede e em seguida descarregou o resolver a volta, enquanto uma de suas mãos empunhava o revolver a outra desceu a cintura em busca de um novo cartucho, encontrou, liberou o vazio e encaixou o novo, em seguida continuou os disparos, ao termino deste correu a parede alvejada atirando o próprio corpo, tentou uma, duas, três, mesmo ferido o homem continuava, quarto, cinco, fraca diante de tamanha obstinação a porção atingida foi a baixo, desta feita o cômodo foi tomado por um volume ainda maior de água, a já fragilizada estrutura do complexo gemia perigosamente, do teto desprendia-se grossos pedregulhos, pegos de surpresa foram levados ao chão pela enxurrada, o soldado perdera a arma, Cintia perdera o notebook, mas a maior perda foi a de Adriano, alquebrado pela pressão de água não conseguira manter o velho em seus braços, emergiu de um susto.
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segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Lágrimas do Céu - Parte V

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- O GENERAL – disse afundando a procura do velhote.
Refeito da queda o soldado também mergulhara, desprovidos de qual quer iluminação podiam contar somente com o tato, piorando a situação escombros geravam perigosos obstáculos, fossem eles estáticos ou moveis, o legionário tateou o que julgava ser um braço, apoiado a isto, decifrou uma cintura, então com ambos os braços ergueu a vitima, em seguida também emergira, passava agora a tatear a cabeça do socorrido, de modo rápido concluiu que não havia resgato o general e sim Cintia, atirou a frágil doutora as costas e afundara, não antes de sorver uma boa dose de oxigênio, com uma das mãos livres tateava a procura do buraco criado por ele, devido ao esforço o ar lhe abandonava com velocidade, destroços que havia vindo junto com a torrente somada ao breu, tornava uma missão simples em algo muito complexo, achar a saída, se fosse da marinha teria um fôlego maior, merda, tinha que ser do exército justo nesta situação? Achei – gritou mentalmente eufórico.
Seu corpo abandonava cautelosamente o interior da câmara, não podia ferir-se mais ou não agüentaria resgatar os outros, não poderia nem resgatar a moça que tinha nos ombros, não poderia resgatar nem mesmo a si, retirou a moça das costas, abraçou-a, impulsionou-se com a ajuda do chão, em pouco tempo, tinha o rosto fora da água e livre do desmoronamento assim como a moça envolta em seu abraço, via a lhe o rosto, de sua testa escorria um fino fio de sangue, só então se atentara que algo iluminava o local, só então se atentara a vasculhar o perímetro, procurou primeiro a fonte de luminosidade, presa ao teto serpenteava um grosso fio que por cerca de um metro não atingia a água, em sua ponta faiscava de modo incessante uma forte luz azul, minha nossa senhora, benzeu-se com a mão livre, não vamos sair dessa, continuou a vasculhar o local, grandes placas de concreto formavam uma ilha assombrada, sustentada pelo teto da câmara, como a cereja de um bolo, ainda havia um esfumaçante esqueleto de helicóptero acima da ilha, seus olhos de modo automático se voltaram para o céu, este se mantinha impassível derramando uma verdadeira catarata, relâmpagos iluminavam com freqüência o cenário logo sendo acompanhado de sonoros trovões, precisaria de um verdadeiro milagre para sair daquela vivo, precisava de Cintia despertasse, tinha que voltar a câmara e resgatar Adriano e o general, pode sentir o corpo da mulher se contorcer em um espasmo, ao menos ainda estava viva, cria ser o hematoma na testa o maior dos males daquela mulher, mas temeu que também ouve-se sofrido  um afogamento pelo tempo que ficara submersa, não era o local exato, mas aplicar-lhe-ia uma respiração boca a boca, retiraria o liquido lhe oprimia os pulmões.
O soldado havia melhor se posicionado para executar a manobra, seus lábios aproximavam-se aos da vitima quando como uma garrafa vazia e fechada Adriano submergiu, atento a cena abandonou a idéia e ainda com a moça presa a um dos braços nadou para perto do rapaz, este se encontrava boiando e com a face voltada para a água, estaria morto? Incapaz de também sustentar o homem apenas o virou, aumentando suas chances, a esta altura não só descria que o frágil general ainda pudesse estar vivo como eles também em breve não mais estariam.
Era um bom soldado e tinha um excelente condicionamento físico fora treinado para resistir à dor e ao cansaço, mesmo assim tudo aquilo o exauria, não sabia o que aconteceria primeiro, perder suas energias ou ser eletrocutado assim que aquele maldito fio tocasse a água, poderia ainda ganhar algum tempo escalando a perigosa e instável montanha de destroços, mas para isso teria que abandoná-los a própria sorte, ele sabia, não faria isto.
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domingo, 16 de janeiro de 2011

Lágrimas do Céu - Parte VI

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Cansado demais para continuar a se arrastar, estacou arfante, só então lembrou-se do radio, idiota como pude me esquecer, pensou enquanto direcionava a mão a cintura, por favor esteja interior, esteja inteiro, orava o exausto Marcel, achou, o arrastou até próximo a boca e apertou o botão.
- Alguém na escuta?
Ouvia somente estática, ninguém lhe retornava.
- Alguém na escuta? Pelo amor de Deus, aqui é o cabo Marcel, escolta do general... aconteceu uma explosão... – dizia ainda mais fraco.
Após alguns segundos de pura estáticas Marcel pode ouvir um retorno.
- Coronel Ulisses na escuta, quem fala? Repita por favor.
- Aqui é o cabo Marcel, escolta do general Augusto... Uma explosão... O galpão...
- Repita, por favor, Coronel Ulisses na escuta, repita, por favor.
As forças de Marcel lhe abandonavam, cerrou os olhos e soltou o radio.
*
- Cabo ligue o GPS do comunicador que acabou de entrar em contato.
- Sim senhor – disse um jovem rapaz, de pele negra cabelos cortado a risca e característica roupa verde oliva, que ao abandonar a posição de sentido sentou-se diante de um computador passando a teclá-lo.
- Pronto senhor.
- Então desembucha filho.
- O sinal está vindo do galpão abandonado senhor, aquele...
- Eu sei muito bem onde fica rapaz, reúna com urgência dois grupos, estou indo na frente para verificar.
Ulisses deixou o interior da base guiando-se até a garagem, dirigiu-se até um jipe estacionado a frente dos outros veículos, olhou o numero em seu capo.
- 38 – disse correndo até um armário preso à parede dos fundos.
Pegou um molho de chaves preso a cintura, após um breve analise enfiou uma delas na fechadura do armário, já destravada e aberta seu interior revela dezenas de chaves numeradas.
- 38 – relembrou.
Correu até o veiculo e o ligou ao mesmo tempo em que apertava um pequeno aparelho junto ao molho, fazendo a pesada porta de metal subir, acelerou rumo ao galpão abandonado.
*
Não fosse a tração nas quatro rodas, o jipe já teria parado a muito, o veiculo seguia com ferocidade cortando a lama por onde passava, em seu interior o coronel Ulisses pisava fundo no acelerador, a lama em abundancia jorrava sobre a lataria e os vidros do carro para serem rapidamente limpos pelas pancadas de chuva que se mostravam o verdadeiro desafio, os para brisas trabalhavam no máximo igualmente os faróis, tentando iluminar o negro do caminho, o jipe sambava a cada novo golpe sofrido pelos buracos, Ulisses se sentia pilotando uma britadeira, mesmo seguro pelo cinto vira e mexe batia o cocô no teto do veiculo, caralho de chuva que não passava, não trazia na memória a lembrança de uma tempestade desta, os faróis finalmente mostravam o objetivo daquela empreitada.
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sábado, 15 de janeiro de 2011

Lágrimas do Céu - Parte VII

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A luz dos faróis indicava que aquele local permanecia da mesma maneira que fora deixado há anos, claro adquirindo a decadência na qual só o tempo sabe fazer, corroidos portões unidos por uma grossa corrente também enferrujada, placas indicavam a proibição da entrada, fosse isto como viera dali o sinal do GPS? Algo estava muito errado.
Ulisses desceu do jipe praguejando – Maldição está chuva não pára.
Correu até o portão, tomou as correntes na mão, estava trancada com um lustroso cadeado.
- Algo me diz que este não era o cadeado antigo – murmurou sarcástico.
Retirou a pistola do coldre, recuou um passo e disparou, o cadeado caiu oculto sobre uma das muitas poças naquele perímetro, Ulisses tomado pela urgência deu um forte e único puxo nas correntes que de igual modo caiu ao chão, empurrou os portões e retornou encharcado para o veiculo – se não for algo realmente urgente alguém vai me pagar – pensou ao passo que afundava o pé direito no acelerador, passava agora por entre diversos galpões velhos e aos pedaços, lembrava-se que tinha pouco mais de uma semana naquele velho complexo, quando fora transferido juntamente com todos para o que era hoje o atual quartel, desde então pisara ali pouquíssimas vezes, ainda assim não se esqueceria daquele lugar, fora ali que tivera sua primeira experiência com a morte e também fora lá que havia conhecido o mais condecorado herói militar brasileiro, o que será que aconteceu com aquela raposa velha? – indagava-se, pois nunca mais vira o velho desde o dia em que a morte de Isaac fora a chave que lacrara definitivamente aquele decrépito quartel.
Chegava ao final da extensa avenida onde se localizava o antigo galpão principal, seus olhos quase se colaram ao vidro frontal do veiculo, os faróis do jipe revelavam dois pedaços enormes de concreto ao chão, entre um clarão e outro produzido pelos relâmpagos Ulisses pode enxergar parte da carcaça do helicóptero, que despontava acima do galpão.
- Minha nossa senhora, o que aconteceu aqui – disse Ulisses abandonando o veiculo e correndo a retorcida porta de metal que lacrava aquele lugar.
Como a nascente de rio por entre as fissuras da porta vazava filetes aqüíferos, virou o olhar para as pedras que tombara lateralmente a porta, o sangue agora congelava diante de medonha e triste cena, em baixo de ambos os pedregulhos jaziam mortos dois soldados, benzeu-se e correu com a mão para o radio.
- Coronel Ulisses falando, alguém na escuta?
Igual a Marcel Ulisses teve como retorno somente estática, permanecera na tentativa por mais de cinco minutos e então desistiu, decidiu contornar o galpão na busca de algum sobrevivente.
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Abriu os olhos, recobrara a visão, ainda que turva já podia distinguir a água lamacenta correr-lhe o corpo, tinha a face voltada para a direita, talvez só por isto não havia morrido, já era capaz de ouvir a violência da chuva chocando-se contra o chão e os telhados dos galpões próximos, tentou se levantar novamente, não conseguiu – que porra – distinguiu um vulto, que julgava ser um homem, correr em sua direção – estaria alucinando? – sabia que tal coisa era comum de lugares áridos como o deserto do Saara, mas ali?Naquela situação?Com aquela chuva?Pedia a Deus que fosse amigo, que lhe ajudasse.
- Ei, voce está bem soldado? Perguntou o homem.
Tentou esboçar um “não”, mas seus lábios nem abriram.
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Fazia o contorno pela a lateral do galpão quando viu uma pessoa caída ao chão.
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sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Lágrimas do Céu - Parte VIII

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- Ei, voce está bem soldado? – disse Ulisses que se agachava para retirar o homem do chão.
Sabia que não estava obedecendo aos procedimentos médicos, mas o homem ainda respirava, para Ulisses naquele momento era o que bastava, tomou-lhe nos braços e se dirigiu para o jipe.
O soldado tinha a respiração descompassada e tremia por provável hipotermia.
- Fica calmo soldado, vai ficar tudo bem – disse deitando o jovem no banco traseiro.
Ulisses agora sentado no banco do motorista tinha novamente o radio em mãos, acabava de apertar o botão e levar o aparelho a boca quando viu através do retrovisor os faróis de veículos do exercito tomando aquela avenida para chegar ao seu encontro, bateu três vezes à mão na buzina, depois se desculpou pela indelicadeza com o soldado.
Dois jipes frearam lateralmente ao de Ulisses, tinham os faróis acesos, de seus interiores desceram cinco soldados cada, estes se apresentaram em posição de sentido diante do coronel que já se encontrava fora do carro.
- Freitas pega o meu carro e volta pra base, tem um soldado ferido dentro dele, peça pra mandarem um grupo de resgate.
- Sim senhor.
No instante seguinte o jipe de Freitas partia sob o comando de Freitas.
- Vamos me ajudem aqui temos que arrombar essa porta de aço.
Com grande presteza os ágeis soldados acorreram os pedidos do coronel, amarraram pesadas correntes nas traseiras dos veículos e engancharam na comprida porta metálica, assim que Ulisses sob o comando de um dos jipes deu o sinal os veículos passaram a acelerar, aceleravam com calma, sabiam do risco que envolvia a operação.
Mesmo já bastante danificada a porta parecia irredutível quanto a abertura, as correntes estalavam silenciosas diante a fúria da natureza, aumentaram a velocidade, nada, mais, nada, Ulisses fitava o soldado que operava o outro veiculo, o soldado balançou a cabeça como quem diz: Vamos, Ulisses entendeu e também balançou.
- Vamos – bradou o coronel.
Ambos os homens afundaram o pé no acelerador, neste instante mesmo os bravos retumbares dos trovões não foram páreo para o grito do metal se abrindo, uma verdadeira enchente ganhava o pátio do antigo quartel, milhares de litros de água abandonavam com velocidade o galpão.
Com o som de uma explosão o que restava da porta metálica agora arrastava-se sendo puxado pelos veículos pegos de surpresa, frearam.
Ulisses juntamente com os soldados abandou os jipes e correu para próximo a entrada do galpão, esperando a oportunidade de entrar.
*
- Você ouviu? Ouviu? – disse eufórico a Cintia que se encontrava ainda desmaiada em seu colo – Estamos salvos – procurou Adriano, não estava mais onde o vira pela ultima vez, teria afundado?
Diego se sentia culpado por estar alegre, queria fazer mais, não podia.
Olhou para o fio, estava agora a pouco mais de trinta centímetros.
- Deus do céu vai logo – disse num tipo de oração.
Como um protegido celeste sua prece foi ouvida, entretanto enfrentava agora um novo desafio, estava sendo puxado por uma poderosa correnteza que se formara com a destruição da porta, apertou Cintia contra o peito, a salvaria ou morreria tentando, salvaria ao menos um.
Afundou como que puxado por mãos humanas, olhou, era Adriano.
- Agüenta firme cara – pensou Diego.
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quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Lágrimas do Céu - Parte IX

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Destroços desprendiam-se do teto e da ilha que agora perdia sua estabilidade, não fosse o puxão do cientista estaria morto, desviava-se dos pedregulhos que perdiam a pressão em contato com a torrente.
Diego sentiu a perna livre, olhou.
- Não...- gritou conseqüentemente engolindo uma boa dose de água.
Adriano como que já de mão dada a morte apenas acenou com a mão estendida diante da testa num cumprimento a lá exército, desaparecendo em seguida.
Sem tempo para lamentações o soldado era novamente puxado, entretanto agora não por mãos humanas e sim pela pressão aqüífera, girava sem controle levado pela correnteza formada pela água, trazia ainda Cintia presa aos braços, sentia o corpo sendo mutilado por estilhaços e pontas, já não se importava mais com suas chagas.
Sabia que o destino da corrente era único, a saída, levaria a mulher até lá.
Em um dos muitos lupins involuntários o pior era o que estava por vir, com imensa violência sentiu as costas chocar-se em cheio com um grande destroço, sentiu a carne rasgar-se com que exposta a um ralador gigante e afiado, sentiu estacas lhe perfurarem, beirava a inconsciência, mas a vontade era ainda maior, não morreria ainda, girou o corpo abandonando o que antes era-lhe o coro das costas, levava ainda pequenas estacas presas a carne.
*
- Senhor – gritou o soldado Magalhães apontando ao avistar o que seria um corpo trazido pela água.
Todos acorreram ao resgate, enganaram-se, não era um corpo e sim dois, olhavam com repulsa o corpo mutilado de um dos irmãos de farda abraçado a uma moça ensangüentada.
- Vamos levá-los ao jipe.
- Senhor acho que eles não irão precisar de medico senhor.
- Por acaso voce é medico senhor Tavares?
- Não senhor.
- Por acaso eu pedi algum favor senhor Tavares.
- Não senhor.
- Então cala a boca e ajuda.
Não fosse a situação que era Tavares não passaria sem ser humilhado pelos amigos, todos ali sabiam como o coronel Ulisses era com relação a essa parada de morte.
*
Abriu os olhos, olhou a volta, onde estava? Que lugar era aquele? Seria um hospital?
- Bom dia.
- Quem é voce?
- Perdão, já ia me esquecendo, prazer eu sou o coronel Ulisses.
- Coronel? Desculpa, ainda estou confusa, não lembro de muita coisa, só de...
Como desperta de um pesadelo Cintia se levanta subitamente.
- ADRIANO, cadê ele? Cadê os outros, o general – Ulisses que não sabia mentir apenas abaixou a cabeça – o soldado – continuou Cintia.
Ulisses permanecia cabisbaixo.
- Mortos? Todos? Como? Como eu sobrevivi? Não me lembro de quase nada.
Não se sentindo no direito de ocultar a informação o coronel passou a relatar o ocorrido para a doutora, Cintia chorou.
*
Irmãos e irmãs estamos aqui hoje reunidos para despedirmos de leais amigos, de pessoas que perderam suas vidas no cumprimento do dever, pessoas que morreram...
Cintia não disfarçava as lagrimas que lhe caiam da face, lagrimas estas que não caiam com a velocidade e quantidade da chuva que a ferira na semana passada, mas certamente com uma força dez vezes maior, cada gota de desprendia-se de seu rosto era carregada de amor, gratidão e saudade.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Bons conselhos


- E agora? - perguntava-se um homem sentado a beira de uma ponte onde a baixo corria um rio de águas calmas.
- Ô omi, caso queira si afogar não recomendo este rio não, ele é muito raso, daria uma trabalheira danada, e é tão fraquin que não serve nem para te levar rio a baixo onde ai sim daria para si afogar - disse um homem que ali passava, largando a mochila que trazia nas costas e sentando-se ao lado do desconhecido.
- Não é nada disso - disse o homem tentando justificar-se.
- Ora, o que é intão?
- Muita responsabilidade.
- Oxi e como com tanta responsabilidade ocê ainda tem tempo di sentar pra ver o rio passar?
- Também, não é isso.
- Então desembucha logo omi, bota tudo pra fora.
Após uma breve análise da face do sujeito que estava ao seu lado começou.
- Sabe, às vezes penso se tudo que eu faço realmente adianta, se as pessoas realmente um dia saberão dar o devido valor, se saberão realmente apreciar o que faço.
- Ah já sei intão, como é mesmo o nome mesmo disso? É...é... Stress, é isso - disse o homem dando um leve soco na mão.
- É, acho que pode ser visto desse jeito.
- E o que o amigo faz?
- Pode-se dizer que de tudo um pouco.
- Ah sim, ocê é ajudante geral?
- Acho que sim – disse o homem esboçando um sorriso.
- Olha, antes de continuarmos essa prosa, deixa eu ti dá um desses, tá muito calô podi ti fazê mar. – disse abrindo a mochila e retirando um boné com o logo da Petrobrás igual ao dele – Agora sim, ondi é que paramo mesmo? – coçou a cabeça – Ah é! Ocê ia conta sobre o seu serviço.
- Ia?
- Ué e não ia? Afinar pra que servi os amigos? Pode continua...
- O problema é que faço e faço e não vejo nenhum resultado, ninguém parece dar valor.
- Ora, as vez isso é coisa di tempo, quanto tempo ocê trabalha nisso?
- Muito tempo...
- Vai vê as pessoas inté ti admira, é só ocê que num vê, i mesmo que não, ocê tem que fazê o que gosta, o que nasceu pra fazê qui nem dizem por ai.
- Eu faço o que gosto, o problema é que poucos vêem o que faço, muitos são os que passam por mim e nem ao menos reparam em meus trabalhos.
- Ora omi, i é por isso que ocê vai fica ai borocochô? Sabe di uma coisa?
O outro homem balançou a cabeça em sinal de negativo.
- Mesmo que ninguém repare no que ocê faiz, isso não muda o bem que ocê ta fazendo, as vezes é assim mesmo, ninguém vê, mas ocê faz, sabe como é? Mas ou mesmo assim como nosso Sinhô – disse tirando o boné da cabeça.
- Tá certo – disse o homem com um sorriso no rosto – são pessoas como você que me fazem continuar com meu serviço.
- Ora omi, e não é pra isso que os amigos servem?
- Sim é claro.
- Já vai? – disse ao ver o homem se levantando.
- Sim, tenho muito o que fazer - sorriu.
- Intão Inté.
- Ah, o seu boné, já ia esquecendo – disse fazendo menção de tirá-lo.
- Carece não omi, já tenho um – disse o caipira levantando o seu boné - fica com esse, vai sabe si lá pra onde ocê trabaia num faz um calorão desses.
- Obrigado – disse erguendo o boné da cabeça.
No instante seguinte o homem juntamente com o seu novo boné desapareceu. E desde aquele dia, sempre que possível entre as suas muitas tarefas, o Criador olhava e sorria lá do céu para o caipira, que com seus conselhos simples, porém profundos e sinceros, tinha renovado o seu vigor para o cumprimento de seu árduo trabalho, que era o de continuar a reger todo o Universo.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O susto


- Você entendeu tudo?
- Entendi pai, entendi.
- Então repeti.
- Levo o despacho até a encruzilhada e volto sem olhar pra trás.
- Isso mesmo e não estou brincando, por maior que seja sua curiosidade, a sua vontade de curiá não olhe pra trás, deixa o despacho e corre pra casa.
- Pode deixar.
Já com o embrulho onde estava o trabalho em mãos o garoto saiu pela porta, caminhava tranqüilo apesar da carga que lhe fora em posta, estava acostumado, quando crescesse queria ser que nem o pai, um pai de santo.
Pra dizer a verdade o homem que chamava de pai era seu avô, o pai ele nunca chegou a conhecer, a mãe o largara aos cuidados do avô ainda pequeno, vez ou outra esta aparecia como quem quisesse dizer “olha ainda estou viva”, não se importava gostava do avô, homem severo, mas de bom coração.
Não passava dos doze, mais parecia ter algo em torno dos nove anos de idade, situação característica aos moradores do nordeste brasileiro.
Não parava, quando não estava ajudando o pai estava fazendo um bico para ganhar algum trocado.
*
Logo adiante a encruzilhada, matagal de um lado e do outro, bambuzal a frente. Chegou. Largou a encomenda e passou a caminhar na direção oposta. Tudo em ordem, afastava-se metro a metro, mas algo lhe coçava por dentro, sabia o que era, o corroia por dentro, era a curiosidade, sabia graças as centenas de vezes reforçadas pelo pai que não deveria virar-se em momento algum, entretanto algo o chamava, era mais forte do que ele, não dava para resistir, virou-se. Nada, absolutamente nada, ao se virar quase havia borrado as calças por nada, nadinha. Virou-se novamente e passou a seguir o caminho de volta a casa.
Um leve assovio característico do sopro do vento ao contato com o bambu lhe tomava a audição, aumentando, aumentando, parecia agora um furacão entre o bambuzal, passou a correr, corria o mais rápido que podia – Vai moleque curioso, voce não queria ver? Agora vê seu idiota – lhe dizia a consciência. Sabia que havia feito algo errado, mas mesmo assim não queria pagar o pato, não queria ser morto ou capturado, seja lá pelo que estivesse lhe perseguindo, sim perseguindo, ouvia passos logo atrás de si.
- Deus me ajuda. – gritou o menino – Socorroooooo...
Corria o mais rápido que suas mirradas perninhas permitiam, não ia dá, estava muito perto.
- Paaaaai! Socorrooo! – gritou estante antes de ser levado ao chão por uma das muitas raízes de uma velha árvore – Nãooo – gritou ao ter o pé puxado.
- O que foi que eu lhe disse menino?
Sem entender e travado pelo pânico o garoto praticamente não havia entendido uma única palavra dita pelo sujeito, tinha os olhos fechados.
- Abre os olhos seu menino, tá tudo bem agora, assim você aprende a não me desobedecer – disse o homem lhe abraçando, dando-lhe confiança o bastante para que abri-se os olhos.
- Paaaaai – disse o garoto retribuindo o abraço.
Passado o susto o garoto reparou, estava a poucos metros de sua casa, entraram.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

O comunicador - Parte I


- Boa sorte filho, eles estão em suas mãos – disse o pai e comandante do sargento.
- Obrigado meu pai – disse já entrando na nave.
- Espere – disse uma jovem que acabava de ganhar o amplo salão de lançamentos.
O sargento já com as mãos no botão para acionar o lacramento da nave desce da mesma e vai de encontro à moça, se abraçam e assim ficam por algum tempo, despendessem com um cálido e demorado beijo.
- Não se preocupe querida volto muito em breve.
- Tome cuidado.
- Tomarei – disse já no interior da nave.
- Lançar – gritou o comandante para os responsáveis do painel de controle.
No instante seguinte o rumo adquirido pela nave era somente visível a tela dos computadores.
*
Compacta e rápida. Era definitivamente a melhor nave para aquela missão, contudo as desvantagens eram claramente visíveis, espremia-se no interior da mesma, trazia um dispositivo no colo, este vez ou outra se chocava contra os painéis do disco.
- Tudo bem é uma missão rápida, perigosa e rápida – pensou.
A tela que era ao mesmo tempo a proteção frontal e transparente da nave e o dispositivo de interação com a CPU mostrava a rota automática tomada para o ponto da missão, caso fosse necessária qualquer tipo de intervenção manual, o sargento era um piloto de mão cheia, mas cobria-se de certeza da não necessidade disto, com olhares preocupado revezava entre a tela de cristal e o aparato que trazia ao colo, sabia que tudo dependia daquele dispositivo e é claro para realizar o adequado uso deste dependeria muito do dispositivo que trazia atado ao braço, definitivamente ao contrario do que todos pensavam o que trazia ao braço era ainda mais importante do que o que trazia ao colo, sem aquilo a missão falharia na certa, sabia das terríveis conseqüências do não logro de seu intento, não podia dar nada errado.
Voltou os olhos a tela, em breve chegaria.  Treinara dias o que iria dizer assim que pousa-se, ainda assim estava temeroso, tinha medo pois estaria totalmente entregue a tecnologia, sem o auxilio daquelas invenções não teria tempo de explicar-se, contudo trazia ao peito a chama da esperança, a crença na melhora daquele povo, eles ainda tinham jeito.
No instante seguinte perdeu-se em filosofia enquanto admirava a imensidão espacial, era um piloto experiente, mas nunca se cansava em contemplar as maravilhas que compunham de modo tão harmônico o universo, ele assim como seus iguais tinha grande paixão pelos estudos fossem eles filosóficos ou tecnológicos, por séculos sondavam o universo para ampliar e dividir seus conhecimentos, tornaram-se guardiões ansiosos de um povo que ainda não estavam preparados para recebê-los, infelizmente para ambos os povos, não havia mais tempo, era agora ou nunca.
Acordou com um baque recebido pela nave, levantou a cabeça e olhou para a tela.
- Chuva de meteoritos – disse ao passo que assumia o comando da nave.
A espaçonave ainda que pequena possuía uma invejável resistência, escudos invisíveis a tornavam virtualmente indestrutível, não seriam meros destroços a destrui-la.
Manobrava com verdadeira maestria a aeronave por entre os destroços, o monitor revelava os poucos quilômetros finais daquela garoa espacial, decidiu aumentar a velocidade.
O sistema de posicionamento da nave agora revelava o incrível acréscimo na velocidade, a estipulação horária por sua vez foi reduzida a metade.
Em pouco tempo o mapa digital já exibia o quadrante onde localizava-se seu destino, o planeta alvo piscava na tela.
Distraiu-se momentaneamente com o poderoso astro regente daquela Via, como era lindo, retomou o foco.
Iniciou o processo de desaceleração da nave, queria fazer um pouso mais discreto possível, ganhava agora a atmosfera do planeta, a aeronave descia com suavidade por uma densa e acinzentada nuvem que estendiam-se por quilômetros, o pouso seria um sucesso, seria se não fosse o mais tolo dos imprevistos, tamanha a carga elétrica que bombardeava a área de pouso a nave não passou incólume, sendo atingida diversas vezes.
No interior da nave e pego de surpresa o piloto agitava-se na busca de uma solução, correu com as mãos aos botões anexos ao painel, nada, a nave não estava adaptada a este pequeno imprevisto, faísca e fumaça começavam a tomar o ambiente, prevendo o inevitável, o sargento tomou o aparato que repousava em seu colo e o abraçou a espera do impacto.
Mesmo diante da incrível tempestade os rodopios e o impacto da nave não se tornaram invisíveis ou abafados, pelo contrario, no instante da queda qualquer outro som pareceu silenciar como se coroassem o senhor do som, o som da nave, nave contra o chão.
Longe do conhecimento do viajante, vivo porém inconsciente, a nave agora repousava uma imensa cratera aberta em um grande centro urbano, não difícil de se prever, mesmo diante o tremendo pé d’água um incrível aglomerado passou a se formar em torno da cratera, curiosos acotovelavam-se na oportunidade de ver o que estava acontecendo.
...

domingo, 9 de janeiro de 2011

O comunicador - Parte II


...
Acordou. Levou a mão a cabeça, dor. Isto não importava, estendeu as mãos.
- Não, não pode, não pode estar acontecendo – disse ao notar somente os destroços do aparelho.
Correu com os olhos ao pulso, o aparelho que lá repousava também se encontrava quebrado.
- Estão todos perdidos, todos perdidos... – disse deprimido.
Em torno da cratera agora somado ao grupo de curiosos também havia as autoridades locais, que tentavam inutilmente controlar a situação.
- Afastem-se, não a nada para ver aqui – dizia um deles, claro que por puro costume, posto que nem ele acreditava nas palavras que de sua boca saia.
*
Tentava em vão acionar o botão que o libertaria do interior da nave, já não tinha mais certeza nada, preocupava-se com o alvoroço que havia de ter causa pela queda, conhecia os costumes daquele povo, eles em sua grande maioria não perdiam uma boa fofoca, como os mesmo diziam.
Sem noção do quanto estava correto em seus pensamentos, aproximavam-se agora de sua nave homens trajando pesadas roupas de proteção acompanhadas de diversos mecanismos de pesquisa.
Após um par de horas a nave foi devidamente acomodada e levada para um secreto centro de pesquisas.
Iniciava agora um minucioso e demorado trabalho de desencasulamento do ser que habitava o interior daquele estranho disco.
*
Enquanto isso...

- Perdemos completamente a comunicação com a nave senhor, o que faremos?
- Infelizmente não podemos fazer mais nada, ele era a ultima esperança daquele povo – disse o visivelmente abalado comandante – não há tempo de mandar um segundo piloto.
- Então...
- Sim...
*
O Sol já havia deitado no horizonte quando finalmente os cientistas lograram êxito na abertura do disco.
- Olhem – disse um deles ao notar o estranho tripulante.
Suas faces encheram-se de repulsa.
- Que coisa feia, é essa?
- Credo em cruz...
Até então de olhos fechados, pego pelo cansaço e pelas dores abriu os olhos.
- Tá vivo – gritaram em coro ganhando cada qual os extremos da sala.
- Vim em paz, tenham calma – dizia o viajante ao seu modo.
Foi só após notar o horror na face dos humanos que se lembrou:
- O comunicador – disse levantando o braço para vê-lo.
- Ele vai atacar atirem – gritou o comandante das forças especiais que até então observava a ao mesmo tempo intrigante e monótona pesquisa.
Alvejado por inúmeros disparos o piloto tombou morto de volta a nave.
*
Um frio tomou-lhe o corpo como um todo, lagrimas corriam por sua face, sentia que seu amado não mais estava entre os vivos.
O pai e comandante do piloto acabava de entrar no cômodo para notificar a mulher do filho sobre a perca, notou a falta de necessidade da mesma, apenas a abraçou.
Na central de comando alienígena um monitor ausente de algum responsável, mostrava o exato momento em que uma forte onda se desprendera do Sol de uma determinada galáxia para chocar-se contra um planeta, nome do planeta? Terra.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Era engano... - Parte I



TRIM. TRIM.
- Já vai, já vai.
Pareciam ter adivinhado sua chegada, mal jogara a mochila no sofá e o telefone já estava tocando, devia ser um dos caras, eles sabiam que horas ele chegava do serviço.
- Alô?
- Eduardo?
- Sim, quem tá falando?
- O Lucas pô.
- Ah sim, e ae mano como vai?
- Beleza e voce?
- Levando, olha o mestre vai fazer um reunião hoje e quer todos presentes.
Mestre? Bom ele dever estar falando do Luis, mestre do grupo de RPG que participava. - Olha cara não sei se vai dar pra mim ir não tô cansadão.
- Se tá louco, quem não for, pode se considerar um homem morto entendeu?
Nossa quem vê pensa que o magrelo do Marcelo tem capacidade de matar alguém – pensou – Tá certo, vou sim, onde vai ser? Na casa dele?
- Claro que não, tá louco, desde quando ele reúne o bando na mansão?
Poxa o Lucas estava mais estranho que o comum, sempre se reunião na casa do Luis, e tá certo a casa era bem grandinha, mas para mansão faltava muito.
- Tá certo e onde vai ser então?
- Vai ser nas docas.
- Nas docas?
- Que foi tá com medo de ser atacado? – riu.
- Não, só acho estranho, que horas?
- As oito, doca numero 13.
Eduardo olhou o relógio, cinco da tarde – Tô dentro.
- Falou, até lá então.
Desligou. Ainda precisava comer algo e tomar um banho.
Trancou a porta e olhou o celular, seis e cinqüenta e três, precisava se apresar, o cais não ficava tão perto, correu a garagem e retirou o carro.
Um fino fio do astro rei despedia-se no horizonte, o céu recobria-se agora com negro véu noturno.
- Esses caras devem estar louco dia de semana, fim de tarde e ainda assim se reúnem para jogar, que pelo menos a sessão seja das boas – disse dando leves batidas no volante.
O veículo começou a engasgar logo na ultima curva que desembocaria na entrada do cais.
- Droga agora não, por favor, não... – olhou o painel do veiculo, gasolina zero – merda – completou ao passo que o carro deu o ultimo solavanco e parou.
Trancou o automóvel e seguiu o restante do caminho a pé.
Olhou o celular, sete e trinta e oito, apertou o passo, a aproximação com a água tornava o ambiente extremamente gélido, esfregou os braços, a bruma impossibilitava a visão de longo alcance.
- Porra que friagem zuada, devia ter trago um casaco.
Inicio uma corrida para esquentar-se, rezou para que houvesse ar condicionado nesta tal doca, era cada lugar estranho que os caras arranjavam às vezes para jogar.
“Cais do Porto” lia-se na placa de madeira instalada logo acima da entrada do local.
Tocou novamente na tela do aparelho.
...