quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Lágrimas do Céu - Parte IX

...

Destroços desprendiam-se do teto e da ilha que agora perdia sua estabilidade, não fosse o puxão do cientista estaria morto, desviava-se dos pedregulhos que perdiam a pressão em contato com a torrente.
Diego sentiu a perna livre, olhou.
- Não...- gritou conseqüentemente engolindo uma boa dose de água.
Adriano como que já de mão dada a morte apenas acenou com a mão estendida diante da testa num cumprimento a lá exército, desaparecendo em seguida.
Sem tempo para lamentações o soldado era novamente puxado, entretanto agora não por mãos humanas e sim pela pressão aqüífera, girava sem controle levado pela correnteza formada pela água, trazia ainda Cintia presa aos braços, sentia o corpo sendo mutilado por estilhaços e pontas, já não se importava mais com suas chagas.
Sabia que o destino da corrente era único, a saída, levaria a mulher até lá.
Em um dos muitos lupins involuntários o pior era o que estava por vir, com imensa violência sentiu as costas chocar-se em cheio com um grande destroço, sentiu a carne rasgar-se com que exposta a um ralador gigante e afiado, sentiu estacas lhe perfurarem, beirava a inconsciência, mas a vontade era ainda maior, não morreria ainda, girou o corpo abandonando o que antes era-lhe o coro das costas, levava ainda pequenas estacas presas a carne.
*
- Senhor – gritou o soldado Magalhães apontando ao avistar o que seria um corpo trazido pela água.
Todos acorreram ao resgate, enganaram-se, não era um corpo e sim dois, olhavam com repulsa o corpo mutilado de um dos irmãos de farda abraçado a uma moça ensangüentada.
- Vamos levá-los ao jipe.
- Senhor acho que eles não irão precisar de medico senhor.
- Por acaso voce é medico senhor Tavares?
- Não senhor.
- Por acaso eu pedi algum favor senhor Tavares.
- Não senhor.
- Então cala a boca e ajuda.
Não fosse a situação que era Tavares não passaria sem ser humilhado pelos amigos, todos ali sabiam como o coronel Ulisses era com relação a essa parada de morte.
*
Abriu os olhos, olhou a volta, onde estava? Que lugar era aquele? Seria um hospital?
- Bom dia.
- Quem é voce?
- Perdão, já ia me esquecendo, prazer eu sou o coronel Ulisses.
- Coronel? Desculpa, ainda estou confusa, não lembro de muita coisa, só de...
Como desperta de um pesadelo Cintia se levanta subitamente.
- ADRIANO, cadê ele? Cadê os outros, o general – Ulisses que não sabia mentir apenas abaixou a cabeça – o soldado – continuou Cintia.
Ulisses permanecia cabisbaixo.
- Mortos? Todos? Como? Como eu sobrevivi? Não me lembro de quase nada.
Não se sentindo no direito de ocultar a informação o coronel passou a relatar o ocorrido para a doutora, Cintia chorou.
*
Irmãos e irmãs estamos aqui hoje reunidos para despedirmos de leais amigos, de pessoas que perderam suas vidas no cumprimento do dever, pessoas que morreram...
Cintia não disfarçava as lagrimas que lhe caiam da face, lagrimas estas que não caiam com a velocidade e quantidade da chuva que a ferira na semana passada, mas certamente com uma força dez vezes maior, cada gota de desprendia-se de seu rosto era carregada de amor, gratidão e saudade.

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