sábado, 15 de janeiro de 2011

Lágrimas do Céu - Parte VII

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A luz dos faróis indicava que aquele local permanecia da mesma maneira que fora deixado há anos, claro adquirindo a decadência na qual só o tempo sabe fazer, corroidos portões unidos por uma grossa corrente também enferrujada, placas indicavam a proibição da entrada, fosse isto como viera dali o sinal do GPS? Algo estava muito errado.
Ulisses desceu do jipe praguejando – Maldição está chuva não pára.
Correu até o portão, tomou as correntes na mão, estava trancada com um lustroso cadeado.
- Algo me diz que este não era o cadeado antigo – murmurou sarcástico.
Retirou a pistola do coldre, recuou um passo e disparou, o cadeado caiu oculto sobre uma das muitas poças naquele perímetro, Ulisses tomado pela urgência deu um forte e único puxo nas correntes que de igual modo caiu ao chão, empurrou os portões e retornou encharcado para o veiculo – se não for algo realmente urgente alguém vai me pagar – pensou ao passo que afundava o pé direito no acelerador, passava agora por entre diversos galpões velhos e aos pedaços, lembrava-se que tinha pouco mais de uma semana naquele velho complexo, quando fora transferido juntamente com todos para o que era hoje o atual quartel, desde então pisara ali pouquíssimas vezes, ainda assim não se esqueceria daquele lugar, fora ali que tivera sua primeira experiência com a morte e também fora lá que havia conhecido o mais condecorado herói militar brasileiro, o que será que aconteceu com aquela raposa velha? – indagava-se, pois nunca mais vira o velho desde o dia em que a morte de Isaac fora a chave que lacrara definitivamente aquele decrépito quartel.
Chegava ao final da extensa avenida onde se localizava o antigo galpão principal, seus olhos quase se colaram ao vidro frontal do veiculo, os faróis do jipe revelavam dois pedaços enormes de concreto ao chão, entre um clarão e outro produzido pelos relâmpagos Ulisses pode enxergar parte da carcaça do helicóptero, que despontava acima do galpão.
- Minha nossa senhora, o que aconteceu aqui – disse Ulisses abandonando o veiculo e correndo a retorcida porta de metal que lacrava aquele lugar.
Como a nascente de rio por entre as fissuras da porta vazava filetes aqüíferos, virou o olhar para as pedras que tombara lateralmente a porta, o sangue agora congelava diante de medonha e triste cena, em baixo de ambos os pedregulhos jaziam mortos dois soldados, benzeu-se e correu com a mão para o radio.
- Coronel Ulisses falando, alguém na escuta?
Igual a Marcel Ulisses teve como retorno somente estática, permanecera na tentativa por mais de cinco minutos e então desistiu, decidiu contornar o galpão na busca de algum sobrevivente.
*
Abriu os olhos, recobrara a visão, ainda que turva já podia distinguir a água lamacenta correr-lhe o corpo, tinha a face voltada para a direita, talvez só por isto não havia morrido, já era capaz de ouvir a violência da chuva chocando-se contra o chão e os telhados dos galpões próximos, tentou se levantar novamente, não conseguiu – que porra – distinguiu um vulto, que julgava ser um homem, correr em sua direção – estaria alucinando? – sabia que tal coisa era comum de lugares áridos como o deserto do Saara, mas ali?Naquela situação?Com aquela chuva?Pedia a Deus que fosse amigo, que lhe ajudasse.
- Ei, voce está bem soldado? Perguntou o homem.
Tentou esboçar um “não”, mas seus lábios nem abriram.
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Fazia o contorno pela a lateral do galpão quando viu uma pessoa caída ao chão.
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