terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O susto


- Você entendeu tudo?
- Entendi pai, entendi.
- Então repeti.
- Levo o despacho até a encruzilhada e volto sem olhar pra trás.
- Isso mesmo e não estou brincando, por maior que seja sua curiosidade, a sua vontade de curiá não olhe pra trás, deixa o despacho e corre pra casa.
- Pode deixar.
Já com o embrulho onde estava o trabalho em mãos o garoto saiu pela porta, caminhava tranqüilo apesar da carga que lhe fora em posta, estava acostumado, quando crescesse queria ser que nem o pai, um pai de santo.
Pra dizer a verdade o homem que chamava de pai era seu avô, o pai ele nunca chegou a conhecer, a mãe o largara aos cuidados do avô ainda pequeno, vez ou outra esta aparecia como quem quisesse dizer “olha ainda estou viva”, não se importava gostava do avô, homem severo, mas de bom coração.
Não passava dos doze, mais parecia ter algo em torno dos nove anos de idade, situação característica aos moradores do nordeste brasileiro.
Não parava, quando não estava ajudando o pai estava fazendo um bico para ganhar algum trocado.
*
Logo adiante a encruzilhada, matagal de um lado e do outro, bambuzal a frente. Chegou. Largou a encomenda e passou a caminhar na direção oposta. Tudo em ordem, afastava-se metro a metro, mas algo lhe coçava por dentro, sabia o que era, o corroia por dentro, era a curiosidade, sabia graças as centenas de vezes reforçadas pelo pai que não deveria virar-se em momento algum, entretanto algo o chamava, era mais forte do que ele, não dava para resistir, virou-se. Nada, absolutamente nada, ao se virar quase havia borrado as calças por nada, nadinha. Virou-se novamente e passou a seguir o caminho de volta a casa.
Um leve assovio característico do sopro do vento ao contato com o bambu lhe tomava a audição, aumentando, aumentando, parecia agora um furacão entre o bambuzal, passou a correr, corria o mais rápido que podia – Vai moleque curioso, voce não queria ver? Agora vê seu idiota – lhe dizia a consciência. Sabia que havia feito algo errado, mas mesmo assim não queria pagar o pato, não queria ser morto ou capturado, seja lá pelo que estivesse lhe perseguindo, sim perseguindo, ouvia passos logo atrás de si.
- Deus me ajuda. – gritou o menino – Socorroooooo...
Corria o mais rápido que suas mirradas perninhas permitiam, não ia dá, estava muito perto.
- Paaaaai! Socorrooo! – gritou estante antes de ser levado ao chão por uma das muitas raízes de uma velha árvore – Nãooo – gritou ao ter o pé puxado.
- O que foi que eu lhe disse menino?
Sem entender e travado pelo pânico o garoto praticamente não havia entendido uma única palavra dita pelo sujeito, tinha os olhos fechados.
- Abre os olhos seu menino, tá tudo bem agora, assim você aprende a não me desobedecer – disse o homem lhe abraçando, dando-lhe confiança o bastante para que abri-se os olhos.
- Paaaaai – disse o garoto retribuindo o abraço.
Passado o susto o garoto reparou, estava a poucos metros de sua casa, entraram.

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