quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Aqui é assim... - Parte I



-Moça acorda!
-Hã?
-Chegamos, você tá na Rodoviária do Tietê.
-Ah sim, brigada moço - disse a mulher que havia cochilado no ônibus durante a longa viajem.
-Não foi nada, posso lhe dar um conselho?
-Pode.
-Toma mais cuidado, aqui as pessoas são assim.
-Assim?
-É, você precisa tomar cuidado, não pode dormir assim em qualquer lugar, ainda mais com tanta mala, aqui é assim não pode bobear, entendeu?
-Brigada viu moço - agradeceu ao motorista do ônibus que além do conselho, ajudou-lhe a descer com as malas.
-Não a de que, alguém vem te ajudar com estas malas?
-Vem não.
-Então é melhor chamar um táxi.
-Não tenho dinheiro pra isso não moço, vou pegar um ônibus mesmo.
-Tá certo. Cuidado viu, não esquece, aqui é assim.
-Brigada de novo viu moço, não se preocupa, não esqueço não – disse atirando uma mochila nas costas e puxando um carrinho com mais três malas grandes e pesadas.
Caminhou até o ponto mais próximo.
-Com licença.
-Que foi? – disse senhora com cara de poucos amigos, sem nem mesmo desviar o olhar do caminho do ônibus.
-Nada senhora, só queria saber se...
-Não tenho dinheiro, não importa se você foi roubada e precisa voltar pra casa ou sei lá mais o que, eu não tenho e pronto.
-Não é isso não dona, só queria uma informação – disse Cícera de cabeça baixa constrangida com a situação.
-Ah me desculpa filha, é que aqui é assim, você sabe né? O que tem de gente pedindo dinheiro aqui próximo da Rodoviária, com todo o tipo de história não é brincadeira.
-Sei sim senhora.
-Então pergunta logo, desembucha tô morrendo de pressa e esse ônibus não passa logo. - disse a senhora olhando do relógio para o corredor de ônibus.
-A senhora sabe se aqui passa ônibus que vai pra...pra...só um segundo – tirou um papel pequeno e amarrotado do interior de uma bolsinha de moedas que estava na mochila presa as costas, desamassou e leu – Praça da Sé, é isso, a senhora sabe se...- quando voltou os olhos pôde somente ver a idosa já embarcado em um ônibus – Poxa vida!
Um homem que estava próximo e viu a situação em que Cícera se encontrava se aproximou e disse:
-Aqui é assim moça, não se tem tempo pra nada, mas pra onde você vai? Talvez eu possa te ajudar.
-É Sé moço, Praça da Sé, você conhece? Sabe se esse ônibus passa aqui?
-Ah sim conheço, passa aqui sim, é só esperar.
-Brigada viu moço, fico muito agradecida.
-Não por isso – disse sorrindo de uma forma engraçada e dando sinal pro ônibus que se aproximava – Boa sorte.
Cícera esperou uma hora e nada, estava cansada da viajem e de carregar pra cima e pra baixo aquelas malas pesadas, mas principalmente estava cansada de se sentir assim desorientada e sozinha e de ter que pedir ajuda da aquele povo estranho e na maioria das vezes desaforados.
...

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