sábado, 18 de dezembro de 2010

Zé Araguaia e o trêm


Zé trazia consigo o apelido de onde sempre morara, Araguaia, desde menino fora treinado para ser um Tarzan brasileiro.
Afastado dos já afastados ribeirinhos morava isolado no meio do mato, solteiro e solitário, fora assim em toda a sua vida, perdera a mãe ainda ao nascer, o pai que sempre o protegera em demasia, também já havia partido, trazia consigo, e traria até o ultimo dia de sua vida, as ultimas palavras de seu pai, estas cujo Zé sem exagerar podia jurar que fora a frase mais dita por seu pai durante sua estada na Terra, podia ainda caso de sua vontade fosse dizer que fora a primeiras palavras que ouvira e aprendera, “nunca sai daqui, mantenha-se sempre próximo”.
Quando criança o pai lhe contara historias terríveis sobre o que poderia lhe acontecer caso o desobedece-se, perdera logo aquela característica curiosidade dos pequenos, era hoje um homem na casa dos sessenta anos e com exceção de si, refletido nas águas e de seu pai só havia visto outros humanos quando estes a contragosto de seu velho o vinham visitar ou ainda turistas perdidos, em ambos os casos logo eram enxotados, não demorou a que os dois ganhassem fama de loucos.
Isolado a muito mantinha sempre uma rotina marcada, pescava logo ao amanhecer e posterior ao café da manhã passava a tratar da lida diária, mantendo ao seu jeito a organização do local.
Foi em um destes dias comuns em que deixando seu lar logo ao amanhecer Zé embrenhou-se no coração da mata, onde ainda compreendia-se a permissão de seu pai, para mais um dia de pesca, após uma breve caminhada este já podia ouvir o delicioso som do correr das águas, passado mais alguns minutos, estava agora posicionado ao leito do rio, onde balançava ao sabor das marolas uma canoa esculpida em um robusto e apropriado tronco, esta por sua vez permanecia presa por uma corda feita de cipó amarrada ao tronco de uma frondosa árvore próxima ao leito.
Igual a todos os dias como se fosse um ritual, agachou-se e observou seu reflexo nas límpidas águas, grandes olhos castanhos, pele morena pelo contato desprotegido ao sol e longos cabelos mal cuidados e encaracolados, em seguida formou uma concha com as mãos e a encheu atirando no rosto, então despiu-se e avançou para o rio, quando seu corpo já estava encoberto pela cintura sorveu uma boa quantidade de ar e afundou passando a nadar, ao emergir livrou-se do excesso de água no rosto e jogou seus cabelos para trás fitando onde deixara suas roupas, esfregou os olhos em descrença, ao lado de suas roupas havia agora uma reluzente forma feminina dotada de longas asas douradas, a luz que vinha daquele tão bem formado corpo quase cegava-lhe os olhos, criado ao desconhecimento do medo e sim ao respeito Zé não intimidado com imponente figura nadou em direção.
- Quem é voce? – indagou ao ganhar o leito.
- Escolhido condutor, chegou seu dia.
- Ãh? Quem é voce? O que diz?
- Obediente filho do homem obediente, sua recompensa chegou.
Dotado de ingenuidade não pertencente nem mesmo das crianças o homem de raza sabedoria permaneceu confuso.
- Vem e suas duvidas serão sanadas.
- Ir onde? Não posso deixar meu lar (e isto compreendia toda a extensão previamente permitida pelo pai).
- Filho, pode ir o seu dia chegou – disse-lhe o pai que tinha idênticas feições do dia em que a morte o buscara.
Com a face tomada pelo pranto Zé correu ao pai, este que havia descido direto do céu através de um luminoso facho de luz, tragicamente em vão seus braços transpassaram a carne imaterial de seu patriarca.
- Ainda não é a hora filho, mas em breve poderemos nos saudar.
- Te amo meu pai.
- Vamos? – disse o anjo que observava até então silencioso a cena.
- Vamos – disse Zé que agora tinha além do rosto lavado pelas lagrima um sorriso de felicidade.
O anjo então o abraçou e alçou vôo, acendia na direção da luz juntamente com o pai de Zé Araguaia, em uma certa altura ambos transformaram-se em vivazes esferas de energia ganhando o topo do manto azul celeste.  

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