domingo, 19 de dezembro de 2010

Invasores


Como todas as noites, Zed tinha os olhos perdidos fitando o céu, encontrava-se estacado em sua sacada, tinha os braços cruzados sobre a mureta de contenção.
- Amor tá tarde entre, você pode pegar um resfriado – disse-lhe a esposa que o envolvia em um abraço por trás.
- Tá certo já vou.
- O que tanto procura todos os dias?
- Inspiração para criação de meus contos.
- Paiiiiii... – disse uma bela garotinha que passava pela ampla porta que levava a sacada, agarrando-se a sua perna.
- Oi filhinha – disse pegando a criança no colo.
- Vamos entrar tá frio – disse a pequena.
Entraram.
 Encarregado de por a filha na cama, Zed agora terminava de cobri-la.
- Pai me conta aquela história?
- Sua mãe me pediu para não contar mais, ela disse que você fica impressionada.
- Não fico não papai, conta vai.
- Tá certo, era uma vez um povo próximo a extinção, seres devoradores da própria espécie, genocidas e monstruosos, com o seu planeta declinando cada vez mais decidiram deixá-lo embarcando em suas naves de destruição e então...
Zed interrompeu a narrativa ao perceber que sua filha já ressonava suavemente.
- Boa noite minha filha – disse dando um beijo na testa da garotinha.
Retirou-se do quarto fechando delicadamente a porta do cômodo.
- Porque demorou tanto? – indagou a esposa assim que entrara no quarto de casal.
- Estava contando uma historia para Lind.
- Não é aquela sobre invasores novamente era?
- Bom... Na verdade... Era.
- Voce sabe que ela se impressiona com estes seus contos.
- Que isto querida, são meras invencionices ela sabe que o que conto não é real.
A noite já chegava a sua metade quando um som estridente foi ouvido ao lado de fora de sua casa, Zed prontamente desperto pelo barulho levantou-se para analisar a origem da perturbação.
- Onde voce esta indo Zed?
- Acho que ouvi algo lá fora, voce não?
- Não.
- Pode ficar, já volto.
Zed destravou a porta que levava a sacada e a abriu, sentiu a casa ser invadida pelo vento noturno, apertou a corda de roupão e saiu, cegou momentaneamente com um poderoso facho de luz que invadira sua sacada, ao recuperar a visão perdera a voz, de sua boca saia um mudo grito de terror.
Um foguete descia cruelmente sobre casas vizinhas, tamanha destruição não passou despercebida por todos da localidade, não só sua esposa e filha já estavam ao seu lado presenciando aquela bizarra cena, mas também todos aqueles sobreviventes do pouso.
De monstruosa nave agora ecoava um assombrado som.
- Viemos em paz.
Zed tinha o olho direito piscando compulsivamente, o sangue corria-lhe veloz nas veias, sua cabeça latejava, não podia acreditar no que ouvia, pousaram sobre casas e diziam ter vindo em paz? Não queria vê-los em guerra.
Um forte brado ecoou novamente do interior da nave - Somos da Terra.

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