segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

No meio do caminho


Camila era uma mulher forte, alegre e cheia de vida, cheia de vida até o dia em que foi esvaziada, o termo exato era morta, morta por uma fera, ainda tinha a impressão salva em seu corpo espectral, nem morta se esqueceria daquela cena, uma fera imensa e peludo, focinho proeminente e diversos dentes na boca, não fosse a fera possuir olhos que chamuscavam como brasas revolvidas por um galho infernal poderia até ter crido que fora morta por um cachorro dinamarquês excessivamente peludo e maléfico, mas não era o caso, agora vendo a cena de um ângulo único observava a fera tomar forma humana e trajar-se com roupas de couro preta que até então estavam ocultas no interior de uma mochila largada lateralmente ao latão de lixo, a fera agora era um homem negro, forte e careca, passou a persegui-lo de um jeito único até onde era de seu conhecimento, ao invés de passo a passo perseguia seu algoz, que parecia não vê-la, flutuando rente ao chão, lembranças do inicio daquele dia invadiam-lhe a mente, vinham como flash, como fotos, uma a uma, lembrava ter acordado, estava atrasada, tomou um banho rápido e se vestiu correndo, ao chegar no serviço teve um dia de cão, era balconista de uma famosa loja de fast food, lembrava ainda que ao fim do dia, semelhante a uma cereja podre em cima de um bolo de vermes fora despedida, mas só ao fim do dia, miseráveis fosse a intenção mandarem-me embora por que não mandaram logo cedo, se assim fosse podia estar viva agora ao invés de vitima por uma criatura que nem ao menos habitava o seu imaginário, sempre achara ridículo aquele papo de criaturas ocultas nas trevas, quanto mais aquela, um lobisomem, sempre escarnecera o irmão mais nova, extremamente fissurado nessas paradas, enquanto era atacada pelas lembranças o seu corpo quase que de modo magnético seguia a fera, queria retaliação, iria a forra com o meu maldito carrasco, decidiu avançar, não esperaria mais, alcançou as costas do homem e lhe desferiu um murro, para nem tanto espanto assim lembrar que não passava de um espírito e que de acordo com as estórias era incapaz de fazer algum mal a fera, iria então tentar algo diferente, tentou anexar o seu espírito ao corpo de seu assassino, de igual modo em vão, mas não de igual modo doloroso, quando seu espectro penetrara metade da carne da criatura fora repelida sentindo espasmos semelhantes aos de eletrocução, tombou por um estante dando vantagem ao mostro disfarçado de gente, a sorte era que o pretensioso caminhava calmamente como um civil comum, notou ainda que mesmo diante da queda seu corpo de maneira nenhuma ligava-se a terra, mantinha-se poucos milímetros acima do contato, ao recobrar-se do choque observou a criatura dobrando uma rua a esquerda correu em sua direção, em instantes estava novamente em seu encalço, o ódio cozinha em seu espírito, daria um fim naquele maldito, ele seguia agora claramente em direção a um funesto casarão, pessoas de modo desavisado caminhavam próximo ao monstro, coitados nem ao menos desconfiavam que poderiam ser a próxima vitima, não deixaria aquele verme fazer isto com mais ninguém, presa em pensamentos nem ao menos notou a viatura que vinha em sua direção, posto que ainda cruzava a rua,  gritou, possuía ainda reflexo dos vivos, mesmo morta ainda temia a morte, sentiu-se estranha muito estranha, não pelo fato do carro ter-lhe atravessado, sentia-se estranha por que tinha um volante em mãos e braços que os seguravam, juntamente com todo um corpo, era agora o piloto policial, freou bruscamente o veiculo.
- O que foi Cardoso, tá loco porra – disse-lhe o homem que estava ao lado no banco do carona.
Abriu a porta e desceu, passou a correr na direção do homem que já adentrava os portões do casarão.
- Ei assassino...
O homem vestido com pesadas roupas de couro preto voltou instintivamente o rosto para trás, Camila então o alvejou seguidamente até o esgotamento das balas, o homem tombou.
...

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