quinta-feira, 23 de dezembro de 2010


Finalmente havia chegado em casa, estava destruído, não sabia se voltaria ao trabalho no dia seguinte, estava farto daquilo.
Tirou os sapatos e largou o corpo no sofá.
Controle em mãos começou a zapear os canais...passou por propagandas de carros, entrevista com alguma nova celebridade recém saída de algum reality show, clipes de bandas gringas e parou no jornal da Globo, boa noticia para variar “-...começa a ser executado o resgate dos mineiros soterrados no dia nove de setembro pelo desabamento de uma mina de carvão no Chile, o resgate que estava previsto para ser realizado apenas no natal, foi iniciado com dois meses e meio de antecedência...”
Assustou-se com um barulho na janela da cozinha. Levantou pra ver o que era.
- Então voce estava na rua não é mesmo Fígaro? - disse o medico.
O som tinha sido da chegada de seu gato.
- O que voce andou aprontando hein?
Agora o pequeno bichano brincava com algo no chão da cozinha.
- O que é isto ai?
Cleber pegou do chão entre as garras de seu mascote algo que parecia ser um cartão, havia algo escrito, foi até a sala em busca de seus óculos que havia descansado em algum lugar, achou, ligou o abajur e aproximou o cartão dos olhos, leu em voz alta:
- “Salve o mundo. Seja um milagre. Descubra a verdade.”
Virou o cartão. Um numero de telefone.
- Do que se trata isto Fígaro? Por onde voce andou?
Fez um estante de silêncio com se esperasse uma resposta do animal.
- Esta Zenaide nunca muda, sempre tentando me levar para assistir ao culto na igreja que freqüenta, e agora até esta deixando bilhetinhos. – Comentou o Medico lembrando-se de sua empregada.
Queria acreditar que a religião era a chave para a solução de seus problemas, varias vezes já havia rezado, não por ele, mas pelas pessoas desenganadas, nunca obteve resposta, tinha deixado de acreditar.
Canal a canal, palavra a palavra a frase foi se formando automaticamente em alto e bom som nas mais variadas vozes:
- Se você... deixou... de... acreditar... ligue agora mesmo não perca tempo... salve... o mundo... seja... um milagre... descubra... a verdade.
Suor frio, palpitação, principio de infarto. Tinha acabado de ver sua TV zapeando sozinha formando uma frase completa e ainda com os dizeres daquele cartãozinho, e ainda sim fazia uma análise automática de si.
Caiu do sofá. Acordou.
- Meu Deus que pesadelo. Respirou aliviado o medico.
Olhou para a TV, ligada, fora do ar. Olhou ao redor, tudo okay.
- Definitivamente este foi o sonho mais esquisito que já tive. –... Ligue agora mesmo salve o mundo... – Sussurrou Cleber lembrando-se do que havia sonhado, pensou no amigo.
Apanhou o cartão e o virou, ali estava o numero. Digitou. Um único toque.
- Alo. Disse uma voz masculina.
- Alo, é sobre o cartão.
- Eu sei, muito prazer meu nome é Lucas.
- Eu gostaria de saber do que se trata este cartão, este numero é de alguma igreja ou algo assim?
- Não, não tem haver com uma religião. Tem haver com a verdade oculta por traz de todas, a verdade que se perdeu por anos de partilhas religiosas.
- Desculpe amigo, não entendi muito bem o que voce quis dizer.
- Quero dizer que se o seu desejo é ajudar o próximo, primeiro deve aprender a juntar este quebra cabeça.
- O que sabe ao meu respeito?
- Sei que daria sua vida para salvar a de seus pacientes.
- Voce não sabe nada da minha vida.
- Sei que se sente como se partisse junto com cada pessoa que perde, sei também que nunca deixou de procurar por conhecimento, para que pudesse nunca mais ter que dizer a uma pessoa que ela esta para morrer ou para nunca mais perder um paciente numa mesa de cirurgia.
Lagrimas. Sentia todo o peso das mortes em suas costas.
- Peço que me deixe te mostrar a solução para a sua angustia.
- E como vai fazer isto?- disse Cleber com a voz tão tremula e soluçante, que chegou a duvidar se o tal Lucas entenderia.
- Nunca mais terá que ver ninguém partir por ineficiência medica.
- Como?
- Com o estudo certo voce será capaz de curar as pessoas.
Aquilo era loucura, não podia estar caindo no papo de um cara que nem conhecia. Mas queria...precisava acreditar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário